7 de março de 2018
No dia internacional da mulher, alunas, professoras e funcionárias do IED Rio falam sobre as mulheres que lhes servem de inspiração
Esta terra nem sempre será estrangeira.
Quantas de suas mulheres se doem ao suportar suas histórias
(Trecho de The Winds of Orisha, poema de Audre Lorde
com tradução de Thamires Zabotto. Leia mais aqui).
No dia internacional da mulher, entrevistamos cinco mulheres que fazem o dia-a-dia da nossa escola: Ayara Mendo, Luisa Queiroz, Eunice de Oliveira, Franciane Flores e Tainara Rodrigues da Silva. Para todas, a mesma pergunta: que mulher te inspira? Em relatos ora emocionantes, ora inspiradores, elas narram suas histórias de luta.
Tainara Rodrigues da Silva está começando uma nova empreitada em sua vida: esse mês, ela começa a morar sozinha com a filha Mirella, de 4 anos, em Santíssimo, região da grande Bangu. Isso não seria possível sem a ajuda das mulheres de sua família, como a mãe Bianca, a tia Ana Maria, a prima Isabela, a bisa Aracy e a avó Angela. Juntas, elas são a rede de proteção de Tainara, que fez toda a diferença em sua adaptação ao novo trabalho.
“Morando em Santíssimo e levando três horas na condução, o início do emprego foi muito difícil. Minha tia, minha mãe e minha prima me mandavam sempre mensagens, incentivando o meu novo trabalho. Minha mãe lava meu uniforme, faz minha marmita e olha minha filha. Eu não tenho do que reclamar” – afirma Tainara.
Com seu primeiro emprego de carteira assinada e morando sozinha, ela agora quer finalizar os estudos e cursar odontologia. “Eu agora não consigo terminar os estudos por conta do horário, mas vou conseguir em algum momento. Agora desejo felicidade e saúde pra criar minha filha”.
Quando o assunto é Lina Bo Bardi, Ayara Mendo poderia falar horas a fio. Perguntada pela Revista IED sobre sua inspiração feminina, ela nos deu uma aula tão incrível sobre a Lina que decidimos fazer uma outra matéria inteirinha só pra falar mais dessa arquiteta tão importante na história brasileira (leia aqui).
“A Lina é uma pessoa que me atravessa em muitos campos, acho inclusive que vim para o Brasil por causa dela. Por um lado, tem uma questão muito profissional dela se colocar como arquiteta nos anos 70, uma arquiteta prática que participava das decisões do dia-a-dia da obra, num ambiente que ainda hoje é muito masculinizado” – conta a arquiteta.
Segundo Ayara, ainda hoje é difícil para as arquitetas participarem do cotidiano da obra, pois “quando a discussão é técnica, a voz da mulher ainda é menos respeitada”. Ela conta que se encantou com a figura de Lina Bo Bardi já na faculdade de arquitetura da Universidade de Alicante (Espanha). Ao vir morar no Brasil, teve a chance de visitar os projetos de Lina. A admiração só aumentou:
“Quando eu vim pro Brasil e visitei o SESC Pompéia, foi uma experiência sensorial e pessoal maravilhosa. Se em algum momento eu duvidei do poder da arquitetura de conseguir transformar a sociedade, a Lina me mostrou como essa disciplina pode ser um catalisador de relações humanas, sociais e políticas. Ela sempre foi uma pessoa de uma orientação política muito forte, comunista e democrática. Para ela, a escala arquitetônica não bastava, ela era capaz de fazer arquitetura, e ao mesmo tempo, encampar uma luta política” – conclui Ayara.
Em seus trabalhos de fotografia e ilustração, Luisa Queiroz narra a sua história e a de outras mulheres. É o caso da série Minas da Madruga (foto), conjunto de ilustrações com mulheres que Luisa conheceu, ouviu ou foi, durante as madrugadas de 2017 (veja mais aqui).
“No meu trabalho e vida, as maiores fontes de inspiração são mulheres. Procuro ativamente consumir mais conteúdo gerado e produzido por mulheres, e em cada setor do meu trabalho – seja na arte, fotografia ou design – eu posso citar uma mulher como minha principal referência” – conta a designer.
Atualmente, Luisa tem nutrido grande interesse pelo trabalho da atriz, roteirista e cineasta Greta Gerwig.
“Sou fã da Greta desde quando ela co-escreveu e protagonizou o filme Frances Ha (um dos meus preferidos), e senti orgulho da sua indicação ao Oscar de melhor diretora por Lady Bird como se a gente fosse amiga. Espero que cada vez mais mulheres possam contar a sua história de uma maneira tão honesta e sensível como a Greta, e que sejam cada vez mais reconhecidas por isso” – afirma.
“A mulher que me inspira é minha mãe, ela nasceu na Bahia e sempre foi uma guerreira. Ela é a inspiração para tudo que eu faço”. Natural da Bahia, a turismóloga Eunice de Oliveira contou a história de sua mãe Valdelice, que aos 20 anos veio para o Rio de Janeiro trabalhar em uma casa de família.
Segundo a filha, Valdelice não teve uma vida fácil. Aos 3 anos de idade, ela perdeu a própria mãe, sendo criada pela irmã mais velha. Logo depois começou a trabalhar fazendo faxina:
“Uma coisa que mexe muito comigo é saber que ela foi mandada embora de um emprego quando tinha 9 anos. Ela dormia na casa da patroa e fez xixi na cama. Ela era muito novinha, mas tinha que trabalhar”, relembra a filha, emocionada .
Hoje, Valdelice ajuda a criar o seu neto Samuel, filho de Eunice, atualmente com 7 anos de idade. A filha conta que o sonho da mãe – que nunca conseguiu completar os próprios estudos – era vê-la se formando em alguma faculdade.
“O que ela mais queria era que eu terminasse uma graduação, aí eu consegui que ela fosse na minha formatura. Ela me ajudou tanto e me ajuda até hoje. Felicidade é ver a minha mãe sorrindo com a minha felicidade” – conta.
“Eu queria que as mulheres se dessem flores no dia 08, mas não é o que acontece. Passamos esse dia quase como um outro qualquer”. Para Franciane Flores, é difícil escolher uma única fonte de inspiração feminina: a mãe Inês, a dinda Maria, a professora Lidia, J.K. Rowling… Fran – como é chamada pela equipe IED – enxerga as mulheres à sua volta como uma grande rede:
“Quando penso nas mulheres que me movem, me lembro da família, das autoras que eu curtia na adolescência, das amigas e colegas. Penso também na minha formação em psicologia, graduação com um número predominante de mulheres. Não por acaso, foi na minha experiência universitária que me tornei mais humana, tolerante e empática” – afirma.
Incentivada por tantas mulheres, Fran confessa que deseja servir de inspiração para suas afilhadas, Flora, de 03 anos, e Alice, de 02. “Queria dizer para elas que ser mulher é difícil, tem que lutar muito, mas vale a pena” – conta.
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