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Há 40 ANOS NA VOLKSWAGEN, GERSON BARONE AVALIA CARREIRA E PROJETA FUTURO DO DESIGN AUTOMOBILíSTICO

Há 40 anos na Volkswagen, Gerson Barone avalia carreira e projeta futuro do Design Automobilístico

Poucos designers brasileiros possuem tanta bagagem no design automotivo brasileiro quanto Gerson Barone. Gerente de Design and Package da Volkswagen, sua história de vida está ligada à própria evolução do automóvel no Brasil. Não à toa, um bom público esteve no IED São Paulo, nesta quarta-feira (30), para a última aula aberta do ciclo promovido pela Pós-graduação em Transportation Design, sob o comando de Gerson e com a participação do engenheiro Edson Soares Silva, ex-gerente de carrocerias e acabamento da montadora alemã.

Convocando o público a se aproximar e dispensando o microfone, Barone fez um balanço sincero sobre sua trajetória profissional e pessoal enquanto designer criativo de uma das maiores montadoras instaladas no país. Uma história que vem “de berço”, já que seu pai foi executivo de design da Ford, e que percorre diversos períodos de crise do setor, como o atual, assim como passagens memoráveis.

Durante mais de duas horas de conversa, foram colocadas em pauta o mercado automobilístico, as possibilidades profissionais, lançamentos que fizeram sucesso e fracassaram, além de uma boa dose de futurologia.

Histórias

Vários causos fazem parte da paisagem nessa longa estrada percorrida por Gerson Barone. Muitos deles coincidem com momentos relevantes da história do automóvel no país, como a Autolatinajoint venture formada entre a Ford e a Volkswagen entre 1987 e 1996, em que as duas montadoras compartilhassem custos, insumos tecnológicos e muitas experiências.

“Na época que o Export estava sendo lançado na Europa, a Volks (sic) estava se preparando para lançar o mesmo carro aqui no Brasil, só que encontrava dificuldades financeiras. A crise que atingiu em cheio as montadoras ocasionou essa união em torno da Autolatina”, relembra.

Dessa parceria, surgiram modelos híbridos, como o Ford Versailles, derivado do Wolkswagen Santana, e o Pointer, da empresa alemã, similar ao Ford Scort. “No início, como não havia uma sede conjunta, resolvemos alugar espaço em um grande hotel do Guarujá, e ficamos trabalhando lá por semanas seguidas”, diverte-se Barone: “era trabalho, praia, trabalho, trabalho, pausa pra almoço e mais trabalho. Foi um período intenso e produtivo”.

Design + Engenharia

Convocado para ir à frente da plateia, Edson Soares Silva acrescentou as experiências que teve enquanto engenheiro encarregado de descobrir soluções e de chegar aos “números mágicos, capazes de validar as ideias trazidas pelos designers”, como ele mesmo resume. Até dezembro de 2015, Silva comandava a equipe de carrocerias e acabamentos da Volkswagen, e participou de diversos projetos em parceria com a equipe de designers comandado por Barone.

Segundo Soares, é muito fácil para o engenheiro dizer “não” e acabar com uma ideia que poderia ser excelente. “O ideal é ter a união entre um designer livre e um engenheiro que não diz não. Nós (engenheiros) não sabemos criar e sim resolver problemas, então se o projeto sair como queremos não será um carro, e sim uma caixa de sapato”, brinca.

Como exemplo, a dupla comentou as alterações feitas na versão mais recente do Saveiro – “automóvel muito elogiado na Europa por seu design”, diz Soares. Eles mencionaram o ajuste feito no vidro traseiro do carro, que precisou ter inclinação acentuada para evitar que o motorista se confundisse com a duplicação do reflexo no espelho retrovisor. “Você achava que o carro que vinha atrás estava indo na sua direção, o que dava um baita susto”, elucida Soares.

“Eu quero contar a verdade para vocês, e não agourar”

Como todo bom profissional experiente, Gerson Barone não deixou de alertar aos jovens da plateia sobre as dificuldades do design de automóveis. “Nos picos de produção, pode esquecer vida social, família, amigos. É uma profissão muito exigente e concorrida”, enfatiza, lembrando também da importância de atualização constante: “não basta ter talento, tem que se dedicar constantemente”.

A queda nas vendas de veículos, acentuada nos últimos quatro anos, também tem trazido reflexos para os estúdios de design – cada vez mais enxutos em número de profissionais. Por isso, o designer sugere grande investimento na formação e também aponta alternativas possíveis para quem curte e sonha em participar da criação automobilística.

Além do design de conceito, outras funções são importantes e tendem a ser mais valorizadas nos próximos anos, segundo Barone: “Renderização 3D, já que as apresentações precisam ser cada vez mais chamativas e ilustrativas; Package, para quem entende bastante de automóveis e pode contribuir com ajustes; e também projetista de linhas futuristas, que saibam desenvolver veículos mais inteligentes e adequados ao futuro”.

Previsões

Dentre as novas tendências trazidas pela modernidade e pelo corte de gastos das montadoras está o crescente investimento na modelagem digital. “A fase do clay vai morrer, inclusive já está perdendo espaço na Volkswagen. Ainda acho fundamental para a visualização do projeto”, avalia Barone.

Por outro lado, ele enfatiza a importância de entender como funciona esse tipo de modelagem, por acreditar que a digital ainda apresenta falhas e distorções frequentemente. “Alguns modelos digitais simplesmente não têm sex appeal, não caem bem aos olhos”, comenta Barone, que é complementado por Soares: “designer costuma usar a expressão ‘aversão cognitiva’ quando olha para alguma coisa, não gosta, mas não sabe explicar por que”.

O futuro também reserva muitas novidades para servir de alternativa ao modelo atual de automóveis. Gerson Barone acredita que há muito espaço para novas ideias, pois “esse automóvel que existe hoje, que é feito de mais de 3 toneladas de aço de alta qualidade, não faz mais sentido”.

Finalmente, o designer também aconselhou o aprimoramento em diversos ofícios e línguas: “quem sabe mexer em um monte softwares diferentes e fala várias línguas sai na frente”. A palestra encerrou o ciclo do Design Transportation Talks, que também contou com palestra de Luiz Antonelli, designer da Renault.

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Ainda há vagas para o curso de Pós-Graduação em Transportation Design do IED São Paulo, coordenado por Fernando Morita e considerado uma referência educacional no país.

E aproveite: quem se inscrever até o dia 15/4 ganhará uma semana de experiência internacional em Turim, na Itália. Saiba mais detalhes aqui!

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